Hoje telefonei a uma amiga que fez anos ontem ( atrasada, pois) para tomarmos um café enquanto fazia as compras no Pingo Doce. Estou com o telemóvel na mão e vou a uma caixa multibanco, tiro o cartão da carteira, coloco na caixa... Estas máquinas demoram um tempão para nos darem o que pretendemos.....
Está uma senhora atrás de mim com um bebé no carrinho a chorar, e eu com o telemóvel numa mão, o cartão na outra e a mala no ante-braço, desvio-me para a senhora se despachar e poder dar atenção ao bebé, e vou arrumando o cartão na carteira.
Qual carteira? Onde está a carteira?
- " Desculpe, a minha carteira estava ai?"
- " Aqui não está nada."
- " Desculpe mas eu tenho o cartão na mão e tirei-o da carteira, se ela não está aqui tinha que estar ai."
- " Aqui não está nada. Veja se está na mala."
- " Se tivesse na mala eu não lhe estava a perguntar se estava ai." - o bebé a berrar, e a querida a abanar o carrinho.
- " Aqui não estava. Não me está a acusar de lhe ter roubado a carteira?!"
- " Se só aqui estou eu e a senhora, e se a carteira não está comigo, quem é que foi??"
Já estava a perder a compostura, a paciência e o bebé não se calava. Olhei para os olhos dela e disse-lhe:
- " Oiça, a carteira não tem nem 1€, eu tenho o cartão multibanco na mão, a única coisa que ai está são documentos que me fazem falta."
Ela começou a berrar ainda mais que a criança, as pessoas entravam e saiam do supermercado e eu virei as costas.
Fui andando e a pensar: "não, eu tenho a certeza que foi ela, vou voltar para trás dou-lhe dois estalos nos olhos e desvio as mantas do bebé... e depois de tirar de lá a carteira desfaço-lhe o resto dos dentes (ela tinha muito poucos)"
Mas ainda sou uma senhora e não quis perder a razão. O meu marido como segurança, faz-me sempre conhecer certas normas e pessoas com o aspecto daquela senhora ele conhece-as à distância. O problema é que ali não havia cameras e não era dentro do supermercado, o segurança não me podia ajudar. Se chamasse a polícia, a querida não era obrigada a esperar e o bebé... estava-me a partir o coração.
Cheguei a casa, contei ao meu marido. Claro disse-me logo que fazia e acontecia e que não saia dali sem a carteira nem que tivesse que virar o carrinho ao contrário.
Fiquei furiosa! E zangadíssima comigo mesma, por não ter armado uma peixarada e saído vitoriosa, afinal eu sabia que tinha sido ela.
Pobre da criança! E desgraçada da mulher que tem a glória de trazer uma criança ao mundo e servir-se dela para estes fins.
É mesmo triste.
Ao fim do dia, recebo um telefonema da D.Ju, a dizer-me que lhe tinham ligado a dizer que encontraram uma carteira como o meu nome e que o único número de contacto era o dela (tinha lá o cartão com o numero de telefone do consultório de psicologia).
Fiquei mesmo contente!
A mulher lá deve ter pensado "esta desgraçada ainda é mais tesa que eu, ainda por cima está a ser seguida por uma psicóloga... vou mas é entregar isto!"
Telefonei para a senhora que entrou em contacto com a D.Ju, em conversa perguntou-me se tinha perdido ou se tinha sido assaltada. Contei-lhe a situação e a senhora confirmou que quem lhe entregou a carteira foi a querida com o carrinho de bebé.
Passou por um café, ainda a uns quílometros do Pingo Doce, gritou lá para dentro a dizer que estava ali uma carteira no chão e que era melhor guardar não fosse alguém perguntar por ela. Graças a Deus a senhora do café, fez mais que isso e eu pude recuperar as fotos da minha filha e o desenho dela que guardo desde os dois anos ( fez-o quando estávamos à espera para uma consulta), alem do C. Cidadão, claro!
Thank God ainda há pessoas felizes!